Foto: Lançamento da Semana Nacional de Trânsito/PMMO que o Japão demorou dez anos para conseguir, Brasília fez em quatro. A humanização do trânsito na Capital Federal faz parte do currículo de Luis Riogi Miura, formado em Psicologia e Direito. Atualmente é Diretor de Trânsito da Secretaria dos Transportes de Maringá (Setran).
Defensor da multa como instrumento de reeducação e não como objetivo, Miura acredita que é possível humanizar o trânsito maringaense a partir de uma mudança de cultura e comportamento. “O desafio está na cultura da população que é modificável”.
PAULO ARAÚJO – No começo do ano, o senhor foi convidado para assumir um trânsito caótico. O senhor acha Maringá um desafio?
LUIS RIOGI MIURA – Na realidade o desafio de Maringá não está nem tanto no trânsito em si. O desafio está na cultura da população que é modificável e também na máquina burocrática do serviço público, do órgão de trânsito responsável pela viabilização das coisas básicas, como a sinalização, campanhas básicas porque já estamos levando no nono mês é que está se abrindo uma licitação para uma agência produzir o material educativo. A viabilização de uma agência que produza esse material para veicular na televisão, no rádio e no jornal eu não tive até agora. Isso é que determinou o atraso. Na realidade, a minha expectativa é que eu teria isso em mãos em 6 meses e implantaria a faixa de pedestre. Paralelamente a faixa de pedestre, reativaria também a fiscalização eletrônica porque uma contribui para que o outro seja bem sucedido. A fiscalização eletrônica altera alguns hábitos do motorista.
P – O senhor é defensor da multa como forma de educar os motoristas. Se tirar as multas, o trânsito pode piorar ainda mais?
R – Eu não tenho a mínima dúvida em relação a isso. Infelizmente nós temos uma cultura em formação ainda. O brasileiro ainda é um jovem em crescimento, não tem os conceitos básicos e essenciais ainda firmados. Questiona muito as coisas e questiona sem conhecimento de causa. Isso é bem típico de um jovem, faz parte da formação, do crescimento, de questionar, discutir. O brasileiro, de maneira geral, eu comparo com um adolescente em crescimento. Também é como São Tomé, ele só acredita que tem que mudar o comportamento se ele levar uma multa. E é público e notório que a parte mais sensível do corpo humano é o bolso. Na medida em que a gente utiliza a multa como instrumento de reeducação, eu acho isso muito importante. Eu nunca usaria a multa como um objetivo. A multa não é um objetivo. Quem faz da multa um objetivo, não consegue resultados efetivos na administração de trânsito. Ele tem que ser obrigatoriamente utilizado como instrumento. Tem que ser passado para a sociedade que a multa está sendo usada para proteger a própria sociedade porque, aplicando a multa, faz um controle do comportamento de alguns rebeldes, das pessoas que não obedecem a regras. Só leva multa quem desobedece a uma determinada regra.
P – Duas coisas mudaram: a aplicação de multas e mortes no trânsito caíram nesse primeiro semestre do ano. Por que isso ocorreu?
R – Eu tenho dito que, visivelmente, o trabalho que a Polícia Militar está fazendo está surgindo efeito. As blitze em locais, em momentos, em horários incertos têm um efeito extremamente importante no controle do comportamento do motorista. Sabendo que tem blitz na cidade mas não sabe onde e nem o horário, faz com que motoristas prestem mais atenção e tomem cuidado. Em segundo, vem um trabalho silencioso que a Secretaria de Transportes está fazendo no que se refere a reorganização do trânsito, falando as coisas certas, de forma certa nas reportagens, nas entrevistas que são dadas. Uma mensagem é passada com um significado correto para dar um efeito correto. Um exemplo é a multa que não é um objetivo e sim um instrumento. É preciso dizer claramente, sem nenhuma inibição e com toda honestidade, que os agentes tem competência e vão continuar multando. Mas, por quê vão continuar multando? É uma questão de justiça! Tem muita gente andando certo e tem muita gente andando errado. O cidadão que está andando corretamente cobra uma ação da fiscalização. A expectativa que criou-se junto à população de que a Prefeitura vai dar uma resposta efetiva para essa questão do trânsito também contribui. As pessoas passam também, de alguma forma, a colaborar para que isso aconteça. É necessário, realmente, que a Prefeitura dê respostas efetivas. Por exemplo, uma coisa inédita em Maringá, a criação do tempo pedestre nos semáforos. São 12 segundos para que o pedestre entre na faixa e atravesse com toda segurança. Isso é uma demonstração que nós estamos cuidando do pedestre. E a expectativa de reativar e ampliar a fiscalização, tudo isso contribui para minimizar essa violência.
P – Como está a fiscalização eletrônica hoje em Maringá?
R – A fiscalização não está funcionando desde abril do ano passado. O contrato venceu e a administração não renovou e nós não conseguimos reativar por questões burocráticas.
P – Sem essa fiscalização, aumenta os abusos nas vias de maior movimento como a Colombo?
R – Aumenta e se de forma urgente essa fiscalização não reativar, tudo que nós fizemos e tudo que nós dissemos até agora vai por água abaixo e esse número de óbitos pode aumentar.
P – Mesmo sem a fiscalização eletrônica, o que a Setran tem feito para coibir os abusos dos motoristas?
R – A fiscalização da Setran é muito reduzida. É totalmente insuficiente para necessidade da cidade. De 7 às 19 horas, temos 8 a 10 agentes trabalhando em Maringá. Se não fosse a Polícia Militar fazendo as blitz, seriam só esses fiscalizando o trânsito em toda Maringá. De qualquer forma, a atuação em pontos críticos, em horários mais críticos, em cima dos fundamentos que a estatística oferece, tem dado algum bom resultado.
P – O que pode ser feito para melhorar ainda mais?
R – Primeiro, instalar o mais rápido possível a fiscalização [eletrônica]. A intenção nossa é multiplicar o número de pontos de fiscalização, pelo menos aquele de rodízio, porque, mesmo que não esteja funcionando ela tem um efeito de reduzir a velocidade naquele local. Vamos estudar novos pontos na reativação dos “pardais” que estão desativados.
P – A população pode ficar confiante que a faixa de pedestre e a fiscalização eletrônica vão contribuir para que os números de mortes caiam mais ainda?
R – Eu posso afirmar com toda segurança que se a gente conseguir viabilizar a reativação e a ampliação para o ano que vem da fiscalização eletrônica, o lançamento, o acompanhamento e a implantação do respeito ao pedestre na faixa, eu não tenho a menor dúvida e aposto qualquer coisa que o número de mortos e o número de acidentes com feridos vão reduzir.
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