Do Blog da Seile
Ontem saí mais tarde do trabalho. Uns 40 minutos além do normal.
Ontem saí mais tarde do trabalho. Uns 40 minutos além do normal.
Para minha sorte (e azar de quem estava no ônibus), o trem havia desencarrilhado e fechado a avenida ao lado da rodoviária. O congestionamento fez com que eu pegasse o mesmo ônibus que teria pego se tivesse saído às 18h.
O motorista, exausto, decidiu "dar a volta" e andar alguns km até o viaduto para passar sobre a linha. Ao ver o ato do motorista, um senhor bem idoso que estava EM PÉ ao meu lado, perguntou prá uma senhora:
- Ele não vai passar no Big? (hipermercedo)
- Não - respondeu a senhora curta e grossa.
- Então vou descer aqui que é mais perto. (Estávamos há umas 5 quadras)
Eu segurei no braço dele e disse:
- Não tio. Espere aí. Ele vai passar no Big sim.
O senhor me olhou com ar de desconfiança. A mulher ao lado começou a resmungar dizendo:
- Ele não vai passar. Só quero ver "neguinho" fazendo caminhada. Mas é bom prá aprender.
Esses e muitos outros tititis que ela começou a falar foram me deixando irritada e eu nunca desejei tanto que aquele ônibus voltasse os 2 km depois do viaduto só prá queimar a cara dela. Mas ao passar o viaduto, o motorista não entrou na rua que deveria. Comecei a me sentir culpada e fui até lá:
- Tio, você não vai passar no big?
- Não. Por quê?
- Porque tem um senhor lá atrás esperando para descer no big.
O Motorista me olhou, olhou pelo retrovisor... esperou o semáforo abrir e disse:
- Tudo bem, eu volto.
Nem preciso dizer que a mulher do fundo quase teve um chilique. COmeçou a falar alto e na minha direção:
- Ele não ia passar se alguém não tivesse se entrometido.
- Senhora, é obrigação dele passar lá - eu disse.
- Obrigação por obrigação eu também tenho que cuidar dos meus filhos... blá blá blá...
O motorista fez mais do que voltar no ponto. Deixou o senhor na entrada no hipermercado, coisa que nem precisava. O senhor me olhou, deu um sorriso tímido e desceu. Depois que o senhor desceu a mulher berrou:
- Motorista, ande rápido, porque eu também tenho OBRIGAÇÂO.
Disse isso como se a culpa de tudo tivesse sido do cara que não fazia mais que o seu trabalho. Ao que um outro senhor, porém uns 30 anos mais jovem que o primeiro, disse em alto e bom tom:
- Está com pressa senhora? Desça e pegue o Moto-táxi.
Aquilo gerou murmúrios e gargalhadas no ônibus. Nunca me diverti tanto. Então, esse senhor veio na minha direção e disse:
- Muito bonito o que você fez mocinha. Isso se chama soliedariedade.
Eu poderia ter dito que não fiz mais que a minha obrigação, e isso foi a primeira coisa que veio na minha cabeça; mas hesitei e respondi:
- De vez em quando é bom sermos solidários.
Olhei prá chata e ela estava me olhando de canto de olho. Voltou para as colegas. Fechou a matraca.
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